A inteligência artificial como aliada da gastronomia

Participantes discutiram como a IA está transformando o dia a dia dos empreendedores

Durante o painel “Da comanda ao algoritmo – como a tecnologia está mudando a gastronomia”, no Fórum Tutano, a sensação era de que o futuro já chegou às cozinhas — mas com o avental ainda bem ajustado na cintura de quem está por trás do fogão. Mediado por Patrícia Albanez, coordenadora estadual de Turismo do Sebrae-PR, reuniu o chef e educador Ricardo Dornelles, Carlos Drechmer (CEO da ACOM Sistemas); e Rê Cruz (Foodness), para refletir sobre o papel da inteligência artificial nos bastidores dos bares, restaurantes e negócios de alimentação.

Ela já organiza planilhas, automatiza tarefas e ajuda a enxergar padrões que antes passavam despercebidos. Ricardo contou que a IA é aliada nas tarefas repetitivas — como gerar atas ou estruturar fluxos de trabalho — e até transformar gravações de reuniões em mapas mentais. Para ele, uma das vantagens é pegar o que está desorganizado e organizar.

Carlos enfatizou que há diferentes tipos de inteligência artificial e que o desafio está em entender qual delas realmente faz sentido para cada negócio. Na gastronomia, a IA já é capaz de prever demandas, cruzar informações de estoque e até ajustar compras de insumos, mas só gera resultado quando aplicada com propósito. “A IA é uma ferramenta maravilhosa se usada para se tornar parte da cultura da empresa”, afirmou.

O ponto central, no entanto, é a qualidade dos dados. Rê Cruz, fundadora da consultoria Foodness, chamou atenção para o uso ainda precário dos sistemas de gestão. Para ela, muitos empreendedores continuam tomando decisões baseadas em achismos, em vez de olhar para números reais. Dados limpos e relevantes, ela explicou, são o que tornam a IA realmente útil. “O dado é um guia que mostra onde colocar energia e como alcançar resultados mais rápido.”

Mas essa transformação depende de um novo tipo de disciplina. Rê comparou o uso da IA à adoção de hábitos saudáveis: é preciso alimentar o sistema todos os dias, corrigir erros, limpar cadastros, manter constância. “O empreendedor precisa se apaixonar pela repetição”, disse, reforçando que é na prática diária que a tecnologia mostra seu valor.

Ricardo apresentou ainda uma sigla para ensinar chefs e gestores a criar prompts — os comandos usados para interagir com a IA — por meio da sigla PRATO: persona, realidade, ação, técnica e organização. 

Já Carlos destacou a tendência dos sistemas conversacionais, que tornam o uso da IA mais intuitivo e menos técnico. Ele lembrou, porém, que o avanço não é gratuito. “Não existe IA de graça. Quando você não paga, você é o produto.” Ainda assim, acredita que a integração entre softwares de gestão e inteligência artificial está abrindo uma nova era de personalização, na qual os sistemas aprendem junto com o usuário.

Ao final, ficou claro que a inteligência artificial pode sim ajudar a prever pedidos, ajustar cardápios e otimizar custos, mas há algo que ela ainda não substitui: o olhar humano que dá sentido a tudo isso. Como resumiu Rê Cruz, “tecnologia é meio, mas não é fim”.

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