Arquitetura como estratégia de negócio

Mais do que estética, o projeto arquitetônico define operação, custos e a experiência do cliente

No Fórum Tutano, o painel “Não é só decoração — arquitetura como estratégia de negócios” reuniu nomes de peso que mostraram como bares, restaurantes e casas de entretenimento dependem, mais do que nunca, de projetos de arquitetura e decoração que entendam a operação, a identidade da marca e o comportamento das pessoas. A conversa, mediada pela jornalista Thabata Martin, trouxe as visões complementares da arquiteta Claudia Pereira, do light designer Guilherme Bez e do empreendedor Facundo Guerra.

 

Para Facundo, um dos maiores nomes da hospitalidade em São Paulo, a arquitetura pode ser a linha tênue entre o sucesso e o fracasso de um negócio. Uma mesa mal posicionada, por exemplo, pode gerar custos extras e dificultar o fluxo da equipe. Por isso, sua forma de pensar os espaços nasce sempre da função. “A primeira coisa é entender para que serve o lugar. A partir daí, o projeto começa a ganhar vida”, explicou. 

 

Bancadas comunitárias, sofás coletivos e iluminação planejada são, para ele, recursos que favorecem encontros e moldam a experiência. No Formosa Hi-fi, por exemplo, bar construído sob o Viaduto do Chá, a acústica é protagonista. “Não tem nada ali que não esteja a serviço da experiência sonora. Decoração, por si só, não faz sentido”, resumiu.

 

Com mais de três décadas de atuação, Claudia também vê nos espaços uma vocação própria. Destacou que o briefing do cliente raramente chega pronto e o trabalho vai se moldando. Conhecida por projetos de hospitalidade que permanecem relevantes ao longo do tempo, como os do grupo Kharina e do La Pasta Gialla, entende que o profissional também tem o papel de provocar o empreendedor. “Mesmo quando o briefing já existe, questionar é fundamental. É isso que mantém a arquitetura atualizada e instigante”.

 

Já Guilherme, especialista em iluminação e criador do conceito de nightlife design no Brasil, ressaltou o peso da experiência sensorial. Para Guilherme, a força de um espaço não está em um “cantinho instagramável”, mas no conjunto de experiências que ele oferece. “Não é sobre um espaço bonito para foto, mas sobre como cada detalhe — da luz à comunicação visual — contribui para uma experiência completa”, explicou.

 

Quando o debate se voltou ao futuro da hospitalidade, as perspectivas se dividiram. Claudia acredita em uma arquitetura cada vez mais profissional, que vá além da funcionalidade básica para aprofundar aspectos como acústica, iluminação, sustentabilidade e conforto. Guilherme aposta em laboratórios imersivos e no uso crescente da tecnologia e da inteligência artificial. Facundo, por outro lado, caminha na direção oposta: para ele, a saturação tecnológica levará o público a buscar espaços mais analógicos e humanos, onde a hospitalidade volte a ser uma prática de acolhida.

 

O painel deixou claro que a arquitetura, longe de ser mero adorno estético, é estratégia de negócios. Ela traduz identidade, organiza fluxos, reduz custos, provoca encontros e constrói memórias. Como disse Facundo, “a arquitetura tem que estar a serviço das pessoas. Arquitetos que fazem esculturas habitáveis, que pensam mais na estética e mais na função, não interessam. Tem que pensar nas pessoas, sempre.” 

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