Qual a fronteira entre visibilidade e propósito num cenário de engajamento polarizado?
No Fórum Tutano, o painel “Entre o like e a conta – estratégias de comunicação para transformar engajamento em vendas” colocou na mesa um dilema comum a quem empreende ou cria conteúdo na área da gastronomia: como transformar curtidas e visualizações em resultados concretos — e sem se perder no meio do caminho?
A chef pâtissière e criadora de conteúdo Carolina Garofani mediou a conversa com Vanessa Huguinin (Food-se), os professores René Seifert, Fernando Vianna, Guilherme Lobão e, ainda, Beto Madalosso, que se juntou ao time, que mostrou que, no fim das contas, o segredo pode estar menos nas métricas e mais na coerência.
Vanessa defendeu que toda estratégia de comunicação começa com a clareza de propósito. “A marca precisa conhecer suas verdades”, disse. “É isso que dá repertório e conecta — não é sobre criar identificação superficial, mas sobre gerar conexão real.” Para ela, a autenticidade é o diferencial mais poderoso em um ambiente digital cada vez mais competitivo, onde todos disputam a atenção do público.
Mas se a autenticidade é essencial, o olhar estratégico também é. Guilherme lembrou que “todo mundo quer o like, mas o que importa mesmo é o cliente pagando a conta”. Ele provocou o público ao afirmar que, nas redes, o consumo é de imagem — não de comida. “É preciso saber o que se quer com cada postagem. A ação digital tem que estar a serviço de um objetivo real”, defendeu.
A conversa ganhou força quando René, do canal Pão da Casa, contou que seus vídeos mais virais nasceram de um posicionamento claro — e até polêmico — sobre o pão francês e os ultraprocessados. “Esse negócio de se posicionar funciona. A rede social é uma ferramenta de engajamento e retenção. E o que gera engajamento é ir nos afetos, nos posicionamentos. A rede social gosta de extremos.”
Fernando lembrou que, durante a pandemia, muitos estabelecimentos que se posicionaram — mesmo sob ataques — acabaram fortalecendo comunidades em torno de si. “Quando você escolhe um lado, perde metade, mas a outra metade fica com você até o fim”, disse, citando o caso do café Fuga Fuga, que viu o faturamento crescer após mobilizar apoiadores.
O debate também trouxe o olhar de quem vive o impacto da exposição no dia a dia. Beto Madalosso juntou-se ao time e contou que sua presença constante nas redes sempre foi intuitiva, mas acabou se tornando uma forma de se posicionar. “Eu falava o que pensava, até perceber o tamanho do alcance e das reações”, contou. Após enfrentar ataques e até fake news, ele reconheceu: “É importante se posicionar, mas tem ônus e bônus.”
“Não se posicionar também é um posicionamento”, disse, categórica, Vanessa. E René completou, ponderando que as redes sociais, embora empoderem criadores e marcas, acabam simplificando o discurso. “É triste que a gente precise de extremos para gerar engajamento. Uma boa foto, uma ideia legal — às vezes não bastam. Mas é isso que está acontecendo.”
No fim, a conclusão geral foi de que, entre o like e a conta, o caminho é o da consistência: comunicar com verdade, estar preparado para o contraditório e lembrar que, na gastronomia e na vida digital, não há receita única — mas autenticidade segue sendo o ingrediente principal.