Do milho ao milhão: a jornada de Elaine Moura

Palestra da CEO e fundadora do Grupo Popcorn Gourmet se transformou em uma verdadeira aula de empreendedorismo na prática

Nascida na zona rural de Goiânia, Elaine Moura não veio de um contexto que gera grandes expectativas. Como ela mesma afirmou em sua palestra “Protagonismo feminino na gastronomia”, no Fórum Tutano, pouco se espera de uma menina preta periférica da zona rural, que na maior parte do tempo frequentou escola pública. “A minha comunidade tem medo e vergonha de falar de sucesso, mas resolvi quebrar isso e contar que o meu produto me levou a lugares que jamais imaginaria.” 

 

O Popcorn Gourmet nasceu de uma ideia simples: criar uma sobremesa gostosa para presentear em seu bufê. O sucesso foi imediato e logo a pipoca passou a ser vendida em um shopping por R$ 10 o cone, faturando R$ 48 mil no primeiro mês e R$60 mil no segundo. Ela lembra que, inicialmente, não tinha inteligência mercadológica, mas percebeu rapidamente que estava diante de um bom negócio. A partir de uma fórmula testada e aprovada, viu que era escalável. Para validar o potencial da franquia, foi sócia da primeira unidade em Ribeirão Preto antes de abrir as portas para os dez primeiros franqueados.

 

O segredo do crescimento da marca, segundo Elaine, está em empreender no simples, sem buscar ideias extraordinárias. “O que tenho a dizer é que não precisamos inventar a roda. A gente precisa buscar o nosso caminho, nossa identidade”, ensina. Essa filosofia também orienta o cardápio da rede, que se mantém enxuto para permitir repetição e especialização da equipe. Na fábrica de pipoca, o time tem a chance de aprimorar cada detalhe. “A repetição leva à perfeição”, garantiu.

“O milho que não passa pelo fogo, continua sendo milho para sempre”, disse, fazendo uma analogia à vida do empreendedor.  E é justamente essa inquietação que fez com que lançasse outras marcas derivadas da Popcorn Gourmet. Durante a pandemia, aproveitou para rever os processos de sua fábrica e assim, transformou resíduos da produção em novas receitas. 

O que antes seria descartado virou cappuccino cremoso, dando origem à PopCoffee, cafeteria que harmoniza café e pipoca — uma tradição ancestral em países africanos. Outros lançamentos surgiram seguindo a mesma lógica, como a PopMilk, rede de milk-shakes feitos a partir do mesmo insumo. Segundo Elaine, pela própria experiência, muitas vezes, a solução está diante da gente, basta olhar para os processos com criatividade e coragem de ousar.

Para criar uma identidade consistente, o conceito vai muito além do produto. Cada detalhe é pensado para criar experiências, do aroma da pipoca nos quiosques, a ambientação com grafites que representam mulheres pretas e embalagens desenhadas por grandes designers brasileiros. 

 

O compromisso social também é parte central da trajetória de Elaine. Além de abrir espaço para lideranças negras em sua empresa, ela fundou o coletivo Entre Raízes, um hub de mulheres pretas empreendedoras que se apoiam, compartilham dores e multiplicam oportunidades. “Se eu quero um mundo melhor, preciso começar melhorando meu mundo”, defendeu.



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