Por trás de cada prato premiado, há muito mais do que apenas um chef e sua cozinha. Cada sucesso carrega um time inteiro, e, muitas vezes, toda uma cidade. A engrenagem que impulsiona um restaurante ao topo envolve planejamento, comunicação estratégica e, sim, até investimento público. Colocar um restaurante na lista certa não é só colocar um chef no topo, mas também posicionar uma cidade no mapa do turismo de alto padrão. Cidades que bancam eventos, oferecem incentivos e até compram o direito de se chamar “anfitriãs” de guias internacionais sabem do peso que isso tem. O retorno vem em visibilidade e movimentação econômica, e, no fim das contas, a estrela que brilha no salão acaba iluminando toda a rua.
Além disso, as premiações também refletem mudanças importantes no cenário gastronômico e social. A inclusão de categorias como a “Melhor Chef Mulher” no 50 Best não foi um simples capricho, mas uma tentativa de corrigir um sistema que historicamente deixava as mulheres para trás. Esse movimento evidencia como essas premiações, apesar de todas as críticas, são um reflexo das transformações sociais e culturais que estamos vivendo. O reconhecimento de chefs como Janaína Torres e Manu Buffara não só foi merecido, mas também um sinal de que o cenário está mudando, ainda que de forma gradual.
Mas, claro, não podemos deixar de notar as críticas que surgem: por que os prêmios estão tão focados em alguns nomes, enquanto outros chefs, igualmente talentosos, ficam de fora? A resposta é simples: a visibilidade é a chave. A mídia tem o poder de dar o palco, e, como em qualquer outra indústria, quem tem mais seguidores, mais história para contar e mais eventos para marcar presença, acaba se destacando.
Sim, essas premiações têm seu valor. Elas reconhecem trabalho árduo, inovação e talento. Mas é preciso entender que esse caminho não é simples nem linear. E, para ser premiado, você precisa muito mais do que uma receita de sucesso. Você precisa saber jogar o jogo.
Flávia Schiochet, na edição de 2024 da Revista Tutano, tira o véu do glamour das listas como 50 Best e Guia Michelin e revela o segredo: experiência, conceito, e aquele toque de marketing pessoal. Não é só o prato, é a narrativa que conta.