Em painel do Fórum Tutano, especialistas defendem que a solução passa por cuidar de quem cuida dos clientes
No painel “Cadê o garçom que estava aqui? Está no Uber – como cuidar de quem cuida dos clientes”, realizado no Fórum Tutano, que aconteceu em 29 de setembro no MON, especialistas do setor debateram a dificuldade crescente de contratar, reter e engajar profissionais de sala e cozinha. A conversa, mediada pelo chef Rubens Catarina, reuniu Ariane Cereda (Nexa Soluções), Danilo Parah (Rudã), Pedro Hemmel (TUJU) e a participação remota de Katherina Cordás (TUJU).
Ariane abriu a discussão destacando a transformação nos critérios de escolha profissional e nos modelos de carreira. “Hoje, nosso maior erro é não conseguir reter ou não saber contratar. Flexibilidade se tornou um valor inegociável, não só para os mais jovens, mas para todas as gerações”, afirmou. Para ela, o setor concorre não apenas com outros restaurantes, mas também com possibilidades oferecidas pela internet e pela economia informal.
Danilo reforçou o impacto do “choque de realidade” que muitos jovens enfrentam ao ingressar na gastronomia. “Nunca se falou tanto em gastronomia na TV e nas redes sociais, mas a nossa profissão continua sendo artesanal, de ficar em pé, cozinhar, limpar. O que é mostrado e a realidade são muito diferentes”, disse. Para ele, a valorização do chamado “capital emocional” é essencial. “Respeito, pertencimento e coletividade são benefícios que não custam financeiramente, mas fazem diferença no dia a dia”.
Em participação por vídeo, Katherina trouxe uma reflexão sobre a essência da hospitalidade. “O futuro da hospitalidade passa por valorizar o principal ativo das instituições: as pessoas”, afirmou. Ela defendeu que líderes devem tratar suas equipes com o mesmo cuidado dedicado aos clientes, criando planos de crescimento e oportunidades reais de desenvolvimento.
Pedro apontou os desafios trazidos pela nova geração que chega aos salões. “Muitos jovens não querem responsabilidade, se contentam com o cargo atual. Cabe a nós criar condições para que eles queiram permanecer, oferecendo qualificação e investindo em formação, como fazemos com as aulas de inglês e cursos internos”, explicou.
O debate também abordou a importância de diferenciar competências técnicas de comportamentais. “Se não houver vontade de aprender, nenhum treinamento vai adiantar”, resumiu Ariane. Já Parah lembrou que o pós-pandemia deixou marcas profundas no setor. “Não é sobre geração, é sobre a fragilidade do mercado. As pessoas perceberam que podem ser descartadas a qualquer momento e, por isso, pensam duas vezes antes de assumir mais responsabilidade”, analisou.
O painel deixou clara a urgência de repensar o olhar para os colaboradores dentro das casas. Além de atrair clientes, a sustentabilidade dos negócios passa pela capacidade de cuidar de quem está nos bastidores.