O chef e comunicador levou ao Fórum Tutano ferramentas valiosas para estimular o pensamento criativo
Em uma tarde de trocas sobre o universo da gastronomia, Rubens Catarina — chef, consultor, professor, comunicador e criador do podcast O Antiácido — compartilhou sua trajetória e o método que desenvolveu para ser mais criativo. A palestra “Ostra feliz não faz pérola”, título emprestado do livro de Rubem Alves, é parte de uma aula de quatro horas sobre criatividade.
Nascido em Santa Catarina, Rubens começou a cozinhar aos 16 anos, não por paixão, mas por necessidade. “Caí na gastronomia por falta de opção. Fazia prato combinado, salada e sanduíche em um restaurante pequeno”, contou. A virada veio por acaso, quando um estágio em Portugal abriu portas inesperadas. De repente, Rubens se viu trabalhando em restaurantes de alto nível, incluindo um hotel com nove cozinhas. Mais tarde, foi para a França trabalhar com Michel Guérard, e depois para a Espanha, onde um ano de estágio não remunerado no restaurante de Juan Mari Arzak se transformou em contratação.
Foi nesse ambiente intenso — ambos os estabelecimentos ostentavam três estrelas Michelin — que ele aprendeu a ter orgulho da profissão e acumulou experiências de gestão em restaurantes de alto padrão. De volta ao Brasil, iniciou uma trajetória de uma década ao lado de Alex Atala.
A pandemia e questões pessoais, especialmente o diagnóstico de Parkinson do pai, o fizeram repensar sua relação com a carreira e o tempo. “A gente precisa fazer diferente. Essa história que ouvimos de que podemos tudo… não, não podemos. Mas como fazemos diferente?” É aí que entra a metáfora da ostra, que cria a pérola a partir de um incômodo. Dessa reflexão, Catarina desenvolveu um método para estimular novas ideias, baseado em sete passos:
Musa: encontre inspiração — um livro, uma conversa, uma cervejada com amigos ou qualquer estímulo.
Questionar: comece a questionar tudo.
Anotar: registre ideias, receitas, observações. Não deixe a memória apagar o que é valioso.
Relaxar: desconectar-se do problema permite que novas soluções surjam naturalmente.
Olhar o mundo com olhos de criança: sem preconceitos, sem hábitos cristalizados, buscando a inovação no simples.
Praticar: a história de cada um só acontece quando é feita.
Errar: a dica é errar rápido, barato e pequeno, pois é errando que se aprende.
Rubens reforçou que a criatividade não é mágica: “Não existe outro formato. É 1% de inspiração e 99% de transpiração. O feio é não tentar”.
Entre anedotas, desafios pessoais e experiências em cozinhas icônicas, Catarina mostrou que ser criativo exige mais do que talento, mas coragem para transformar desconfortos em oportunidades, disciplina para exercitar ideias e atenção para enxergar o mundo com curiosidade. “Encontre sua musa. Não tenha medo. E se tiver medo, respira, a história de cada um só existe quando a gente faz”, finalizou.